Antes da
discussão dos índices de perdas e consumos de materiais, é necessário que se
estabeleça a que fases da “vida” do empreendimento tais resultados se referem.
Nesse sentido, convém inicialmente notar que o consumo excessivo de materiais
pode ocorrer em diferentes fases do empreendimento (Tabela 1): concepção, execução
ou utilização.
Tabela 1
– Diferentes fases de um empreendimento e a ocorrência de perdas de materiais
Pode-se
citar, quanto à concepção, o caso de um projetista estrutural não explorar
adequadamente os limites que o conhecimento atual permite e gerar, assim, uma
estrutura com consumo de concreto por metro quadrado de obra muito elevado. O
mesmo pode ocorrer quando a definição do traço para a argamassa de contrapiso leva
a um consumo desnecessariamente alto de cimento.
No caso da
execução, são várias as fontes de perdas possíveis: no recebimento, o material
pode ser entregue em uma quantidade menor que a solicitada; blocos estocados inadequadamente
estão sujeitos a serem quebrados mais facilmente; o concreto, transportado por
equipamentos e trajetos inadequados, pode cair pelo caminho; a não obediência ao
traço correto da argamassa pode implicar sobreconsumos na dosagem dela
(processamento intermediário); o processo tradicional de aplicação de gesso
pode gerar uma grande quantidade de material endurecido não utilizado.
No caso da
fase de utilização do empreendimento, por exemplo, a repintura precoce de uma
fachada pode representar um consumo de tinta maior que o esperado.
Convém,
portanto, ao se discutirem perdas de materiais, entender qual a abrangência em
que essas perdas serão abordadas. Nesta pesquisa, foram focadas as perdas que
ocorrem especificamente dentro do canteiro de obra, isto é, associadas à fase
de execução do empreendimento.
Da mesma
forma, o desempenho no uso de materiais nos canteiros de obra pode ser
analisado segundo dois tipos de abordagem:
-
calculando-se o seu consumo por unidade de serviço (por exemplo, 15 kg de cimento
por metro quadrado de contrapiso); ou
-
calculando-se o valor de suas perdas (por exemplo, ao se considerar que o
consumo teoricamente necessário de cimento para o contrapiso é de 10 kg, o
consumo indicado no exemplo anterior levaria a uma perda de 50%, isto é, teria
havido um consumo adicional de 5 kg de cimento em relação aos 10 kg definidos
como necessários).
Nota-se,
portanto, que o cálculo do valor da perda carece de uma definição prévia de uma
referência considerada como perda nula. Reside aqui a dificuldade de se
uniformizarem os diferentes números citados na matéria, já que diferentes referências
são adotadas para representar o consumo mínimo necessário.
Outra
dificuldade encontrada é quanto à definição da unidade através da qual se medem
as perdas. Assim, uma perda de 10% em volume de areia, contida por exemplo em
argamassas que endureceram e viraram entulho, pode ser bastante significativa sobre
o ponto de vista da quantidade de material que terá de ser retirada da obra, e
do espaço necessário para a deposição dele (gerando prejuízos ao meio
ambiente). Tais perdas, no entanto, podem não ter a mesma significância se
expressas em termos financeiros, pelo empreendedor, em comparação com todos os
outros gastos inerentes ao negócio imobiliário. Há, portanto, que se deixar
sempre clara a unidade na qual se está mensurando as perdas: física (volume ou
peso) ou financeira.
Há que se
perceber também a existência de perdas que saem da obra como entulho e aquelas
que ficam incorporadas à obra (como, por exemplo, na forma de sobreespessuras
de revestimentos).
Finalmente,
deve-se ressaltar que a parcela a ser considerada desperdício físico de
materiais depende, para sua definição, de uma avaliação custo–benefício quanto às
perdas detectadas.
Nesta
pesquisa, foram focadas as perdas físicas de vários materiais, tendo-se sempre
como referência (ou consumo representativo de perda nula) as prescrições de projeto.
Por exemplo, no caso do concreto usado nas estruturas, o consumo seria aquele
apropriado na “cubagem” a partir da planta de formas. No caso do cimento usado
no revestimento de parede interna, o consumo real de cimento é confrontado com
aquele calculado a partir da espessura de revestimento planejada e do traço da argamassa
preconizado pela construtora. Portanto, não se está fazendo análise das especificações,
mas detectando-se os consumos que excedem os especificados. Cabe ainda
ressaltar que, conforme anteriormente citado, ao se levantar as perdas físicas totais,
os números mostrados representam uma soma das perdas que saem (entulho) com as
que ficam incorporadas. Tais perdas não são totalmente evitáveis, carecendo-se de
uma análise adicional para definir qual parcela da mesma poderia ser considerado
desperdício.
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